Feliz Páscoa!

Feliz Páscoa!

5 de Abril, 2021 0 Por OCDS SUL

Desejamos uma Feliz e Santa Páscoa na Alegria de Jesus Cristo Ressuscitado, Nosso Amigo e Salvador!

MENSAGEM PASCAL

Estimados irmãos e irmãs,

Hoje faço-me a mesma pergunta de um ano atrás: como celebrar a alegria da ressurreição neste tempo de pandemia? A experiência que a um ano atrás vivíamos se tornou ainda mais dolorosa. Sentimo-nos como no exílio bíblico, onde o povo de Israel se viu privado de tantas coisas que até então dava segurança, sentido e identidade para eles. Nosso Pai, São João da Cruz, é mestre no tema das privações, ele nos ensina que elas visam purificar a alma, para unir-se com Deus na fé. Essa pandemia é um tempo de purificação, que poderá tornar-se um tempo de graça, se soubermos vivê-lo desde o dinamismo da fé.

A liturgia da Vigília Pascal nos oferece elementos para compreendermos o sentido da ressurreição usando dois símbolos formidáveis: o fogo e a água. O uso desses dois elementos da natureza no coração da celebração da fé cristã aponta para a nova criação, restabelecida pelo Cristo que vence à morte. Daí a tradição da Igreja, nessa noite santa, fazer renascer pelas águas do batismo novos membros.

Embora a Igreja proclame e insista na vida nova que é gerada pelo batismo, na dimensão material, tudo permanece igual. A novidade não se encontra fora, mas dentro do próprio batizado. Ou seja, quem assume a vida nova é o neófito – com a graça de Deus, é claro – mas com empenho e determinação pessoal. A consequência para nós me parece clara, a proclamação da ressurreição do Senhor deve levar a um compromisso com a vida nova, mesmo se as realidades humanas permanecem iguais.

Os estudiosos já nos fizeram notar que Santa Teresa tinha uma predileção pela água e São João da Cruz pelo fogo. Santa Teresa no Castelo Interior afirma: “não encontro nada mais apropriado do que a água para explicar certas coisas do espírito!” (4M 2,2). São João da Cruz, na sua obra “Chama Viva de Amor”, oferece um incontestável testemunho sobre essa predileção. Ambos recolhem da natureza símbolos para tratar do caminho espiritual. Essa sensibilidade ecológica nasce da contemplação da criação, que para os místicos carmelitas, contém ás “pegadas do Criador”.

O fogo, na liturgia pascal, é exaltado por ser a expressão da luz. Faz memória da coluna de fogo que guiava o povo na passagem pelo Mar Vermelho (Ex 13,21). Essa luz, com o advento de Cristo, tornou-se para o cristão a luz interior da fé. Por isso, São João da Cruz canta em seus versos: “Nessa noite ditosa, em segredo, porque ninguém me via, nem via eu qualquer coisa, sem outra luz nem guia, exceto a que no coração ardia”. A obscuridade que essa pandemia nos colocou, pode nos ajudar a purificar a fé, tão mal compreendida e vivenciada em nossos dias. De um lado cresce as crendices e superstições, que não deixa de ser uma das expressões do ateísmo, de outro, se desconhece a fé e seu dinamismo mais profundo.

A água encontra-se na Vigília Pascal ligada à liturgia batismal. A água, na experiência teresiana, está ligado ao texto bíblico da samaritana. “Senhor, dá-me dessa água” (Jo 4,15). Buscar à fonte da água viva exige, em primeiro lugar, deixar de cavar cisternas furadas, que não pode reter a água (Jr 2,13). Ou seja, é preciso renunciar as soluções fáceis e ilusórias, deixar a superficialidade das formas e centrar-se no essencial. Para Santa Teresa ir à fonte equivale a estabelecer um trato de amizade com o Senhor, que é a fonte de todo o bem.

A celebração da ressurreição do Senhor, neste tempo de pandemia, pode ser dolorosa para muitos e cheias de privações para todos, mas será repleta de luz e de plenitude espiritual se aproveitarmos para aprofundar o dinamismo da fé. O Senhor está vivo no meio de nós, por isso, alegremo-nos e Nele exultemos. Ele é a nossa esperança e a nossa paz!

Feliz Páscoa!

Frei Everton Berny Machado

Provincial