São João da Cruz – Uma Alma Enamorada por Deus

14 de Dezembro, 2017 4 Por OCDS SUL

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Ele nasceu em 1542, talvez no dia 24 de junho,  em Fontiveros, província de  Ávila,  na Espanha. Seus pais se chamavam Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior” foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda.  Em 1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551 transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo. Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem dos Carmelitas aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa.
Infelizmente, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os conventos carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres. O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. “Padecer e depois morrer” era o lema do autor da “Noite Escura da alma”, da “Subida do Monte Carmelo”, do “Cântico Espiritual” e da “Chama de amor viva”.
A doutrina de João da Cruz é plenamente fiel à antiga tradição: o objetivo do homem na terra é alcançar
“Perfeição da Caridade e elevar-se à dignidade de filho de Deus pelo amor; a contemplação não é um fim em si mesma, mas deve conduzir ao amor e à união com Deus pelo amor e, por último, deve levar à experiência dessa união à qual tudo se ordena”.
“Não há trabalho melhor nem mais necessário que o amor”,
“Fomos feitos para o amor”.
“O único instrumento do qual Deus se serve é o amor”.
“Assim como o Pai e o Filho estão unidos pelo amor, assim o amor é o laço da união da alma com Deus”.
O amor leva às alturas da contemplação, mas como o amor é produto da fé, que é a única ponte que pode salvar o abismo que separa a nossa inteligência do infinito de Deus, a fé ardente e vívida é o princípio da experiência mística. João da Cruz costuma pedir a Deus três coisas: que não deixasse passar um só dia de sua vida sem enviar-lhe sofrimentos, que não o deixasse morrer ocupando o cargo de superior e que lhe permitisse morrer humilhado e desprezado.
Faleceu no convento de Úbeda, aos quarenta e nove anos, à meia-noite do dia 14 de dezembro de 1591, após três meses de sofrimentos atrozes.  Seu corpo foi trasladado para Segóvia em maio de 1593. A primeira edição de suas obras deu-se em Alcalá, em 1618. No dia 25 de janeiro de 1675 foi beatificado por Clemente X. Foi canonizado em 27 de dezembro de 1726 e  declarado Doutor da Igreja em 1926 por Pio XI . Em 1952 foi proclamado “Patrono dos Poetas Espanhóis”.
Talvez a mais bela e completa descrição física e espiritual do Santo Fundador tenha sido feita por Frei Eliseu dos Mártires que com ele conviveu em Baeza:
“Homem de estatura mediana, de rosto sério e venerável. Um pouco moreno e de boa fisionomia. Seu trato era muito agradável e sua conversa bastante espiritual era muito proveitosa para os que o ouviam. Todos os que o procuravam saíam espiritualizados e atraídos à virtude. Foi amigo do recolhimento e falava pouco. Quando repreendia como superior, que o foi muitas vezes, agia com doce severidade, exortando com amor paternal..”
Santa Teresa de Jesus o considerava “uma das almas mais puras que Deus tem em sua Igreja. Nosso Senhor lhe infundiu grandes riquezas da sabedoria celestial. Mesmo pequeno ele é grande aos olhos de Deus. Não há frade que não fale bem dele, porque tem sido sua vida uma grande penitência”. Poucos homens falaram dos sublimes mistérios de Deus na alma e da alma em Deus como São João da Cruz. Santa Teresinha conheceu João da Cruz quando ainda vivia nos Buissonnets. Ela, em seus escritos, refere-se ao Santo Fundador cento e seis vezes, direta ou indiretamente, e confessa a forte influência que dele recebeu: “Ah, que luzes hauri nas obras de Nosso Pai São João da Cruz !… Com a idade de 17 a 18 anos, não tinha outro alimento espiritual… ” (MA 83r).
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Senhor Deus, Amado meu!

Se Te lembras dos meus pecados,

e por isso não fazes o que Te peço,

faça-se em mim, Deus meu, a Tua vontade,

pois que é o que eu mais quero

e manifesta em mim a tua bondade e misericórdia

e serás conhecido em mim.

Se esperas obras minhas

para me concederes o que Te peço,

realiza-as Tu em mim,

e as penas da minha vida que quiseres aceitar

e faça-se a Tua vontade.

Mas se não esperas as minhas obras,

que esperas então, clementíssimo, Senhor meu?

Porque demoras?

Se o que em Teu Filho te peço, é graça e misericórdia,

toma já a minha vida, pois a queres

e dá-me o bem que Te peço,

pois tu também o queres.

Quem se poderá libertar de tudo o que é baixo

se não o levantas Tu, a Ti, em pureza de amor, Deus meu?

Como se elevará a Ti o homem gerado e criado em baixezas?,

se Tu, Senhor, não o levantares com a mão com que o fizestes?

Não me tires, Deus meu, aquilo que me deste

em Teu Filho Jesus Cristo,

em Quem me concedestes todo o bem que desejo.

Por isso me alegro, pois eu sei que se esperar e confiar

Tu não tardarás.

Porque esperas, pois, se desde já podes amar a Deus

em teu coração?

Meus são os céus e minha é a terra;

Meus são os povos, os santos são meus e meus os pecadores;

Os anjos são meus e a Mãe de Deus,

e todas as coisas são minhas,

e o próprio Deus é meu e para mim,

porque Cristo é meu e todo para mim.

Que pedes, pois, e buscas, alma minha?

Tudo é teu e tudo para ti.

Não te rebaixes

nem repares nas migalhas que caem da mesa de teu Pai.

Sai de ti e gloria-te da tua glória.

Esconde-te em Deus e rejubila

e alcançarás o que pede o teu coração.

Que assim seja.

Em Ti, Senhor, depositei a minha esperança,

em Ti está o meu coração, por isso,

o Céu é meu e minha é a terra

Em Ti, Senhor, pus os meus projectos.

Em Ti guardei os meus êxitos.

Por isso, minhas são as gentes,

os justos são meus e meus os pecadores.

Em Ti, Senhor, sonhei o meu futuro.

Em Ti soube amar tudo.

Por isso, os anjos são meus e a Mãe de Deus,

e todas as coisas são minhas;

Em Ti, Senhor, dei tudo quanto possuía.

Em Ti renunciei a tudo onde não Te percebia.

Por isso, o próprio Deus é meu e para mim,

porque Cristo é meu e todo para mim.

Louvado, sejas, meu Senhor!

Ditos de Luz I, 25-27
S. João da Cruz in As mais belas páginas de S. João da Cruz p. 176,177